O conceito de economia circular se opõe ao conceito de economia linear e fomenta uma mudança na maneira como consumimos produtos. O objetivo é aumentar o ciclo de vida e diminuir a utilização de recursos naturais e o impacto socioambiental — no uso de matérias-primas e na geração de resíduos, por exemplo —, promovendo, consequentemente, economias de baixo carbono.
Inspirados pelos estudos sobre economia circular desenvolvidos pelo World Business Council For Sustainable Development, extraímos sete recomendações que podem ser consideradas por empreendimentos que pretendem desenvolver uma estrutura para medir sua atuação na economia circular.
Essas recomendações podem compor o planejamento estratégico da empresa e, ao mesmo tempo, figurar como fundamento para a execução de mudanças e novas ações de circularidade.
Os tópicos abaixo devem considerar a maturidade dos negócios e ser desenvolvidos por meio de indicadores e metas, conforme os riscos à circularidade avaliados:
1. Aumento do desempenho de negócios circulares
Uma estrutura eficaz de medição da economia circular deve não apenas levar a empresa a se tornar “mais circular”, mas também estimular o crescimento financeiro. Ou seja, a finalidade da economia circular é também o resultado financeiro. Faz parte do conceito da sustentabilidade desenvolver indicadores que conduzam a melhorias no desempenho financeiro, ambiental e social ao longo do tempo, não somente à circularidade em si.
Por exemplo, medir a receita circular ou a porcentagem circular geraria fortes resultados financeiros por meio da circularidade, estimulando ainda mais as partes interessadas a prosseguir com a estratégia engajada.
Podemos medir a circularidade dentro do próprio processo das empresas, bem como nos produtos e serviços. A economia de recursos e a escolha de insumos e matérias-primas em conformidade com o conceito de economia circular integram esse processo.
Produtos e processos estão relacionados, e ambos têm implicações na economia circular de uma empresa, uma vez que geram impactos no meio ambiente e na sociedade. A gravidade, os tipos e o controle da empresa sobre eles podem variar conforme o tipo de negócio desenvolvido, a localização, entre outros aspectos.
Como exemplo, podemos citar a aplicação dos três escopos do Protocolo de Gases de Efeito Estufa. As atividades que uma empresa monitora e gerencia em suas próprias operações refletem seu impacto sobre o meio ambiente, a economia e a sociedade. Essa avaliação deve ser realizada ao longo de todo o ciclo de vida do produto.
2. Divulgação de metas e resultados
As empresas devem ser capazes de relatar seu desempenho circular para as partes interessadas. Para isso, as métricas podem ser disponibilizadas para colaboradores, incluídas nos relatórios integrados de sustentabilidade direcionados às entidades relatoras e aos investidores e abordadas em materiais dedicados aos clientes.
Os clientes e colaboradores costumam ser o principal público-alvo das métricas circulares, mas é importante que a empresa seja capaz de comunicar efetivamente seu desempenho circular aos seus stakeholders prioritários, como órgãos reguladores.
Acrescentamos ainda a ideia de comunicar a circularidade à matriz de fornecedores e demais partes que compõem a cadeia de valor e que podem agir diretamente nos processos da empresa ou com os clientes.
3. Abrangência do escopo de sustentabilidade
A verdadeira medição da circularidade de uma empresa, conforme ressaltado anteriormente, deve considerar os aspectos financeiros, ambientais e sociais dos processos e produtos. Medir apenas os aspectos financeiros das atividades circulares pode pesar em responsabilidades ambientais ou sociais e, por outro lado, o contrário também é verdadeiro.
Por exemplo, uma empresa que promova a reciclagem, mas ao mesmo tempo utilize trabalho infantil para o processamento dos resíduos, não pode ser recompensada — neste caso, há um claro débito social. O mesmo poderia ser dito sobre o uso de matéria-prima reaproveitada fruto de furto ou roubo. A abrangência da medição da circularidade dos negócios deve considerar todas as entradas e saídas de recursos em seu processo.
Além disso, é de suma importância abarcar na medição a estrutura responsável pela circularidade dos produtos e serviços colocados no mercado. Para isso, é preciso considerar a estrutura do negócio circular: materiais (incluindo minerais, solo, resíduos etc.), energia (como ar, poluição e emissões) e água (incluindo águas residuais). A empresa que afirma ser “circular” sem contabilizar os tipos e o uso de recursos naturais, além dos três pilares da sustentabilidade, pode ter seu negócio questionado publicamente.
4. Indicadores apropriados e factíveis
O desenvolvimento de indicadores de economia circular deve considerar os padrões existentes, mas precisa moldar-se à realidade dos processos e negócios da empresa. Há que se prever certa flexibilidade para que os objetivos sejam alcançáveis. O conjunto de indicadores precisa se aplicar a empresas de todos os setores, posições da cadeia de valor e níveis de maturidade da visão circular.
Duas empresas podem ocupar diferentes posições na cadeia de valor e, portanto, necessariamente passar por avaliações diferentes, para que sejam realmente apropriadas. Para uma indústria química, medir a condição de seu efluente e do impacto gerado por seus produtos é imprescindível para compor a circularidade do seu processo, enquanto, no caso de uma empresa de crédito, talvez não seja o melhor indicador a ser avaliado, considerando o possível impacto social e a visão macro da circularidade.
Em estruturas compostas por mais de uma empresa, ou ao considerar investimentos e aportes no mercado, é importante destacar os líderes em economia circular — sem desencorajar aquelas empresas que estão iniciando sua jornada e precisam medir seu desempenho ao longo do tempo. Por exemplo, a estrutura pode permitir que as empresas meçam o desempenho circular internamente e decidam se devem divulgar esse valor em seus relatórios e comunicações anuais. Alternativamente, a estrutura pode normalizar que a avaliação do desempenho circular seja feita por indústria, em oposição a considerar empresas em geral.
A circularidade de um produto ou serviço está intimamente relacionada à circularidade do portfólio como um todo. Por isso, os indicadores devem permitir a medição da circularidade em nível de produto, mas sem torná-la obrigatória. À medida que fabricantes de produtos e prestadores de serviços adotam cada vez mais abordagens baseadas em portfólio para impulsionar a sustentabilidade e a circularidade, a estrutura de medição também deve refletir essa lógica.
Em última análise, uma empresa é mais capaz de conduzir a circularidade de seu portfólio se entender o que está acontecendo no nível do produto. No entanto, tomar as etapas adicionais para entender a circularidade de cada produto pode ter um custo proibitivo ou ser irrelevante para algumas empresas. Portanto, as empresas devem ser incentivadas a medir a circularidade no produto ou serviço, mas não devem ser obrigadas a fazê-lo.
5. Etapas para chegar à economia circular
Os aspectos que envolvem a economia circular são muitos, e alguns deles podem ser mais fáceis de medir do que outros. Portando, os estudos apontam que a estratégia de medir e divulgar resultados deve obedecer a etapas. Isso permite uma compreensão dos aspectos de maior relevância para a economia circular do negócio, medidos e monitorados no curto prazo, para posteriormente integrar indicadores de maior complexidade.
O estudo sugere que, na aplicação dos indicadores conforme os seis capitais do International Integrated Reporting Council (IIRC) — capital financeiro, capital natural, capital humano, capital social e relacional, capital manufaturado e capital intelectual —, a primeira medição deve abordar, no mínimo, os capitais financeiro e natural. Na medição seguinte, recomenda-se incluir os capitais humano e social. Por fim, os capitais manufaturado e intelectual devem ser considerados na terceira etapa da estratégia.
As etapas também podem compor a estrutura circular em processos de desempenho do negócio. As empresas podem começar avaliando a reciclagem e o desvio de resíduos; em seguida, analisar o redesenho do produto; e, por fim, a transformação do modelo de negócios. Esse é o processo mais visto nos empreendimentos.
6. Construir sobre estruturas e padrões existentes
A medição de indicadores de circularidade deve atender a padrões e parâmetros relevantes para o negócio, de maneira clara e direta.
Embora haja, de modo geral, uma insatisfação por parte de acionistas e investidores quanto à melhor forma de comparar os dados levantados por diferentes empresas (segundo dados de 2021 da Comissão de Valores Mobiliários – CVM), modelos de medição e relato como o Global Reporting Initiative (GRI), o Natural Capital Protocol (NCP) e o International Integrated Reporting Council (IIRC) são exemplos de metodologias amplamente utilizadas pelas organizações.
Utilizar padrões largamente estudados e difundidos permite a construção de novas ideias na medição da sustentabilidade, além de favorecer o crescimento com base nessas estruturas já estabelecidas. Dessa forma, encurta-se caminhos e inova-se sobre o que já é conhecido. Por exemplo, a estrutura circular deve ser consistente com a GRI 306 Effluents and Waste standard e o GHG Protocol.
As empresas precisam entender como seu modelo de negócios depende e impactam os capitais natural, social e humano. Para isso, a estratégia da empresa pode considerar o uso do IIRC e os seis capitais como estrutura de avaliação do desempenho circular. Não é necessário referenciar todos os seis tipos de capitais, mas facilita a análise de relatórios, segundo especialistas.
7. Mudar a cultura e disseminar conhecimento
Uma estrutura de economia circular deve promover a mudança da cultura da empresa e disseminar conhecimento que suporte essa mudança. Há indícios de que empresas que implantam uma cultura de economia circular partindo de altos escalões ganham em eficácia e velocidade na mudança. Portanto, executivos precisam acreditar na ideia e demonstrar seu compromisso com seus colaboradores. Para isso, uma sugestão é incluir os elementos da circularidade na missão, nos valores ou mesmo na estratégia da empresa, de maneira clara e objetiva.
Com uma maturidade mais complexa, é possível alinhar a sustentabilidade à remuneração individual por meio de indicadores de desempenho circulares, ou, no mínimo, oferecer educação e treinamento que evidenciem o valor gerado pelas iniciativas circulares para a empresa.
A medição de indicadores que componham a visão de circularidade permite dar visibilidade às boas práticas adotadas por organizações e empreendimentos em prol da sustentabilidade, ao mesmo tempo que permite a diminuição do impacto ambiental e social do negócio.
Medir e divulgar resultados da visão circular das empresas inspira novos negócios circulares e educa partes interessadas — como investidores em suas estratégias e consumidores em suas escolhas.
A Ambipar Certification, que integra a Ambipar ESG, é uma certificadora independente com governança e procedimentos avaliados, acreditada pelo Inmetro, que concede o “Selo Verde” para empresas engajadas em sustentabilidade.